Meia noite eu conto.

Festa surpresa - Parte 3

Mais tarde naquela noite, após colocarmos as crianças em suas camas, fui pegar um copo d’água na cozinha. O celular de Pedro estava jogado despretensiosamente no sofá da sala. Ao passar por ele, notei que a tela ligou.

07/04/2024
Cotidiano

Mais tarde naquela noite, após colocarmos as crianças em suas camas, fui pegar um copo d’água na cozinha. O celular de Pedro estava jogado despretensiosamente no sofá da sala. Ao passar por ele, notei que a tela ligou. Infelizmente não fui ágil o suficiente para conseguir escapar meus olhos do aparelho, em um gesto automático, não sou do tipo que gosta de espionar meu marido.

Uma mensagem havia pipocado com um nome bastante aparente: “Eduarda Joice”. Pedro tinha o hábito de colocar o nome do contato de pessoas ligadas a mim com um sufixo. Assim ele saberia que aquela era a Eduarda minha amiga e não outra qualquer. A mensagem que se seguia logo abaixo do nome dizia o seguinte:

“Obrigado por tudo. Achei que você ia me dar um beijo naquela hora hahahah boa noite.”

Bom isso eu tenho que concordar com Eduarda, ele realmente parecia que ia dar um beijo nela. Não um beijinho no rosto, quase encenado, como estamos acostumados a fazer para cumprimentar alguém. Mas um beijo em seus lábios. Como eu estava em movimento meus olhos desviaram brevemente do smartphone e quando voltaram a fita-lo a tela estava apagada. Poderia então ser algum delírio da minha cabeça, ou algo que minha imaginação criou; e mesmo se fosse real, que mal teria? Seu marido não costuma dar bitocas despretensiosas em suas amigas? Você nunca beijou um amigo do seu marido por acaso? Coisas acontecem não é mesmo?

Pensei em voltar e averiguar melhor a situação, mas Pedro já apertava o passo em direção a sala. Tudo o que pude fazer foi continuar meu caminho até o copo de água gelada mais próximo.

Meus lábios estavam entorpecidos e mal sentia o gosto frio se aproximando. Meu corpo parecia agir por conta própria, como se eu fosse uma boneca controlada por uma menina manhosa. Não sei quanto tempo se passou enquanto eu olhava fixamente para o armário, bem no lugar onde o puxador estava ligeiramente lascado. Droga Pedro, eu já disse que a gente precisa reformar essa cozinha.

Um beijo na nuca e um abraço apertado me tiraram do torpor.

“Gostou da surpresa meu amor? Deu muito trabalho viu”

Pedro falava com aquela voz que ele usa quando está tentando me seduzir. Eu sabia bem onde ele queria chegar. Mas eu estava tão profundamente imersa em dúvidas e minha cabeça rodava tanto que era muito difícil que eu conseguisse respondê-lo de forma satisfatória. Mas eu tentei.

“Claro. Adorei, foi incrível… Obrigado. Mesmo.”

Me virei abruptamente em sua direção, na intenção de confrontá-lo ali mesmo. Mas não me vieram palavras, tampouco argumentos que sustentasse o que estava latente na minha cabeça.

Dei um beijo em sua boca, o puxei para mais perto e apertei sua cintura. Durante o beijo dei pequenas mordiscadas em seus lábios que se transformaram em dentadas, até que eu pude ouvir um sonoro “ai”. Não parei por ai, estava obstinada em lhe tirar a roupa ali mesmo. Comer sua carne, devorar cada pedaço do seu corpo e acabar com qualquer questão. Assim eu não iria precisar lidar com tudo aquilo, não ia precisar falar sobre algo que eu não queria.

Notei que eu havia deixado de prestar atenção em meus movimentos no que diz respeito a beijar alguém. Pedro já estava bastante animado e se mexia por conta própria. Eu o parei com dois tapinhas no ombro, como de costume quando algo corria errado em nossas incursões sexuais.

“Acho que eu estou cansada Pedro.” - Disfarcei um sorriso e o afastei vagarosamente ao mesmo tempo em que ele tentava se recuperar da recusa. Me olhou como um cachorro que tem seu petisco tirado da boca e disse:

“Claro, dia cheio. Não é mesmo?”

Assenti com a cabeça e prossegui com meu copo d’água.

Após uma noite de sonhos cruéis e terríveis, dos quais eu me lembraria muito pouco, levantei para mais um dia comum. Dessa vez, com certeza, sem muitas surpresas.

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O caminho para o escritório foi usualmente tranquilo. Cheguei ligeiramente mais tarde do que o horário que era de costume e Eduarda já estava lá, sentada em sua mesa.

“Bom dia Eduarda, obrigado pela surpresa. Foi muito bom”. Eu disse tentando fingir uma simpatia que já estava muito abalada. Ela respondeu arqueando as sobrancelhas e me oferecendo um sorriso largo.

“Minha lindinha, fiz com o maior prazer do mundo. Pode ter certeza”. Eduarda falou com a satisfação de quem termina uma tarefa complicada para um chefe exigente. Eu sentei e voltei aos meus afazeres com possíveis candidatos para vagas diversas. Falando uma ou outra coisa com um colega que passava. Por algum tempo tentei ignorar meu crescente incômodo com tudo que Eduarda fazia, até mesmo com a forma como ela se referia a mim. “Lindinha” - o diminutivo passou de carinho para algo que tentava me rebaixar de alguma forma.

A “Joicinha” com seu “Maridinho” e seus “filhinhos” na “apartamentinho”. Acho que você também não tem como me julgar, não é mesmo? O que eu sabia é que deveria tomar uma decisão e precisava ser rápido. Como minha mãe sempre fala, ou você decide o seu destino ou alguém vem e decide por você.

Seguindo para o restaurante de costume e comendo a comida de costume, notei que ela ainda estava gastando muito tempo em seu celular. Digitando copiosamente e em alguns momentos sorrindo ao receber uma nova notificação.