Meia noite eu conto.

Festa surpresa - Parte 2

O tolo se entrega na curva.

07/04/2024
Cotidiano

Eu não sabia se cumprimentava as pessoas ou se gritava com meu marido ou se ralhava com Eduarda. Todos sorriam amigavelmente e Pedro me embalou em um abraço sincero e apertado. O choque ao não ver meu marido em uma cama de hospital e o fato de todos terem me enganado com tanta facilidade, tudo isso ao mesmo tempo, estava feliz mas sem chão ao mesmo tempo; foi aí que lágrimas se precipitaram em meus olhos.

Meus filhos estavam lá, vieram me abraçar enquanto diziam como tinha sido legal ter saído antes da escola. Minha mãe também estava lá, uma senhora bastante altiva que me felicitou com um beijo na bochecha enquanto limpava as minhas lágrimas.

Feliz aniversário Joicinha, Você merece tudo isso e mais um pouco. - Ela disse com sua voz rouca já cansada pela idade.

Minhas amigas Cleia, Thais, Luciana e Maria estavam lá também. Ao vê-las soltei um sonoro grito de excitação.

Isso deve ser um milagre… eu não consigo reunir vocês nem com promessa…

Exclamei entre um a braço e outro. Após saudar todos os meus convidados e comer um salgadinho que estava disposto sobre as mesas em pratinhos de plástico, fui ter com meu marido que estava em um canto do salão trocando idéias com o marido de Thais.

Que inferno Pedro, você não deixou escapar nada. De quem foi essa ideia? - Eu o indaguei envolvendo meus braços em seu pescoço, como uma cobra. Jamais poderia passar pela minha cabeça que meu marido conseguiria planejar sozinho algo daquele tipo.

Eduarda me ajudou, na verdade. Mas a ideia foi minha. - Notei que ao me responder ele desviou brevemente seus olhos, realizando um semicírculo ao voltar a direcionar sua retina em minha direção.

Acenei com a cabeça e talvez tenha agradecido novamente o empenho. Alguém me puxou e emendei em algum outro assunto frívolo, sem dar a devida atenção ao que poderia significar uma cooperação estranha, dado ao fato que pedro não tinha conversado com Eduarda nem mesmo duas vezes em todos esses anos.

Dancei, comi bastante e aproveitei cada presença do lugar. Em dado momento o assunto rumou para a organização do evento.

Pedro discorreu como foi difícil pegar os meninos mais cedo na escola ao passo que marcava o horário de pegar o bolo. Como cada passo teve que ser cronometrado e a comunicação com Eduarda foi imprescindível. Como cada convidado teve que chegar em um horário específico para não correr o risco de encontrá-lo.

Senti vontade de perguntar a Eduarda se por acaso a tal pessoa com quem ela conversava era o Pedro; mas achei demasiado fora de hora, pois eu teria outras oportunidades de endereçar essa dúvida.

Pouco a pouco os convidados foram se despedindo e eu já começava a sentir os sintomas de um dia no meio da semana. Já era tarde e meus filhos logo deveriam estar na cama. Os últimos foram, eu e meus filhos, Thaís, Pedro e claro Eduarda ainda permaneciam cultivando uma conversa sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Quando decidimos que era hora de partir.

Ao nos despedirmos notei algo curioso. Pedro ensaiou um abraço em Eduarda ao passo que ela esticou a mão como quem procura a do outro para um cumprimento. Meu marido recuou logo que percebeu a confusão; ela tentou mudar o movimento, mas já era tarde. Ambos acabaram por apertar um a mão do outro dizendo quase que ao mesmo tempo: - Boa noite e obrigado por tudo.

Seguimos então para casa com o pequeno Felipe dormindo apoiado em seu irmão no banco de trás do carro. Eu me limitei a sorrir para Pedro mas não estava querendo mais dizer nada.